A Samaritana - Por Sarah Catarino-
Quem contou a história não lhe deu um nome. Não sabia, ou achou que não era importante. Ela era apenas uma mulher de Samaria, zona geográfica olhada com desprezo pelos judeus. Nunca ninguém se lembraria de falar sobre ela. A sua origem era obscura, a sua vida igual à de tantas outras da cidade. A diferença era a dor que carregava, bem fundo, no coração. Quando a hora do calor apertou, pegou no cântaro, colocou-o à cintura e saiu. O sol castigava tudo onde tocava. Era a hora mais dura do dia e por isso, as ruas estavam desertas.
Caminhou devagar até ao poço de Jacó. Ao longe pareceu-lhe ver a figura de um homem junto à fonte. Quando estava mais perto, apercebeu-se que era um judeu, pelas roupas e pelo corte da barba. Nervosamente pousou o cântaro. Apanhou a lata com que tiravam a água do poço, desceu-a devagar, em gestos calculados e quando ficou cheia, puxou-a e começou a encher a bilha. O homem levantou a cabeça e interrompeu-lhe o gesto. “Dá-me de beber!” O coração da mulher disparou. Um homem judeu a pedir-lhe água...Tentou fugir ao pedido, mas Ele insistia e falava agora de algo que ela não entendia. À medida que a voz profunda do homem se fazia ouvir no silêncio do descampado, o coração da samaritana parecia querer saltar-lhe do peito. A sua necessidade de água poderia ser suprida por artes mágicas, o homem dizia-lhe que tinha uma água que não acabava nunca. Era uma oferta cheia de atrativo. Não teria que vir mais ao poço, mas seria verdade? E de repente, do nada, Ele diz:”Vai chamar o teu marido!” A dor escondida, amarrada no mais profundo da sua alma, subiu-lhe na garganta. Em voz quase inaudível respondeu que não tinha marido. Afinal, não conhecia aquele homem, não precisava de esventrar a sua frustração de ter tido um marido atrás de outro. Os rostos daqueles homens passaram em segundos fugazes pela lembrança da sua alma. Cada um deles tinha trazido à sua vida uma dor sem limite, uma sede de amor insatisfeita, uma perda de dignidade, vergonha que escondia agora nos braços de um outro, que afinal não era seu marido. O desconhecido junto à fonte insistia com voz mareada de ternura, de um som que ela nunca ouvira antes, de um cuidado que nunca ninguém lhe prestara: “Disseste bem, ele não é teu marido”. A samaritana puxou o balde outra vez. Ele tinha-se calado, mas ela não conseguia. Este homem deveria ser um profeta, pois conhecia a sua vida! Já agora queria saber que tipo de profeta era ele, para tirar tempo da sua jornada para falar com uma mulher.
A conversa subiu de tom, à medida que Ele respondia às suas questões sobre religião. Silêncio, outra vez. Escassos segundos apenas, antes de ouvi-Lo dizer: “EU SOU o Messias, eu mesmo, que falo contigo!” Encostou o cântaro cheio de água, levantou os olhos para o homem à sua frente e reparou que outros se aproximavam. Era a deixa para correr dali e ir à cidade contar a quem quisesse ouvir, que um homem lhe tinha dito tudo sobre a sua vida, sem ser abusivo, sem olhá-la com desprezo, sem palavras de condenação.
Dentro dela havia como que um rio a correr, sentia-se lavada, purificada. Tal como Ele dissera, a alegria era como uma fonte a jorrar. Esqueceu a água que ficara junto ao poço. Esqueceu os anos de tortura e culpa por ter vivido à margem da lei. Nos seus ouvidos e no seu coração havia umas palavras que não paravam de ecoar como se fossem sinos em dia de festa: “Sou EU mesmo, que falo contigo!” Junto ao poço de Sicar, o Messias olhou para a comida que os discípulos tinham ido comprar e num tom de voz que eles sabiam não precisar de resposta disse: “Estou saciado. Já comi o que tinha a comer”. Na alma da samaritana a água viva saltava para a vida eterna. No coração do Messias não havia fome, estava saciado de um pão de obediência ao desígnio do Pai. O sol escondeu-se naquela tarde pintando o céu de cores de esperança. Em Sícar, junto ao poço de Jacó.
Sarah Catarino - Via Thing higher
Leia essa história na bíblia em João 4: 4 a 42
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