Por Ligia Martins de Almeida
Os jornais e revistas estão felizes. Conseguiram dar uma cara aos black blocs, culpados pela morte do cinegrafista Santiago Andrade. E, para alegria dos pauteiros sensacionalistas, a cara dos black blocs é uma morena miúda, de cabelos curtos que, como se não bastasse, ganhou dos colegas de confusão o apelido de Sininho.
Se a cara dos black blocs fosse a dos mascarados, o apelo seria bem menor. A verdade é que até agora, as imagens de TV ou fotos de revistas e jornais não tinham dado destaque às mulheres entre os mascarados. Naquela multidão usando bonés e máscaras, a cara limpa de Sininho, faz a alegria dos fotógrafos.
Conhecida até outro dia apenas por seus seguidores no Facebook, Elisa Quadros ganhou perfil no diário gaúcho Zero Hora, matéria grande no Globo e, a glória das glórias, virou capa de Veja no domingo (edição 2361, de 19/2/2014).
Na matéria "Os segredos de Sininho", Veja diz:
"Três personagens foram fundamentais para revelar a face mais sinistra dos black blocs: Fábio Raposo, o Fox, que carregou o rojão que atingiu o cinegrafista; Caio Silva de Souza, o Dik, que levou o artefato até perto da vítima; e Elisa Quadros, a Sininho, militante ativista (a definição é dela) que surgiu do nada para oferecer "assessoria jurídica" aos dois acusados e não parou mais de aparecer."
Enquanto os dois presos são considerados "peões" do movimento, Elisa é definida pela revista como "parte da elite que decide e dá ordens e faz a ponte entre os black blocs e a parcela da classe política que nutre simpatia pelo grupo"
Para justificar a definição de Elisa como uma das chefes do movimento, Veja diz que ela é "articulada, gosta de mandar- em passeatas, é vista apontando a direção a ser tomada pelos mascarados."
Mais objetivo, o Zero Hora, de Porto Alegre , fez um longo perfil da moça, sem no entanto, considera-la parte da chefia dos black blocs.
Nessas matérias sobre Elisa Quadros, há uma constante de mau jornalismo: fala-se muito sobre ela, mas ninguém abre espaço para a moça.Tudo o que se sabe sobre ela é o que os outros disseram ou o que ela postou no blog. Talvez uma entrevista bem feita - ela alega que a Rede Globo cortou a entrevista dela e distorceu suas declarações- sirva para destruir o mito que a mídia está criando.
O futuro da nova celebridade depende das próximas ações dos black blocs. Porque a imprensa, bem sabemos, vai esquecer dela assim que surgir outra musa para ocupar esse espaço. De preferência uma musa bonita e sensual e que não assuste ninguém.
A verdade é que se a pessoa morta pelos black blocs não fosse jornalista e se o líder conhecido não fosse uma mocinha bonitinha, a história seria bem diferente, sem direito a perfil nos jornais e muito menos capa de Veja.
Ligia Martins de Almeida via Observatório da Imprensa
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